Sobre tudo aquilo que você não sabe sobre mim
É,
acho que você entrou para aquela lista interminável de caras - ou mesmo pessoas
- que não me dão a chance de mostrar minha verdadeira eu. E isso é um tanto
triste, considerando toda aquela história que poderia ter virado uma verdadeira
história. Okei, não vou exagerar dessa vez, ou vou tentar, pelo menos. Acontece
que tudo parecia muito mais legal antes de eu passar por você e te perguntar, como quem não quer nada, se você podia trocar dinheiro pra mim. Você disse que não tinha, eu saí andando
e não pude evitar de voltar e perguntar seu nome. Não sei se foi a atitude
certa a ser feita, mas foi. E talvez tenha sido por causa dela que tudo se
desenrolou depois. Se foi isso mesmo eu não sei, mas o que aconteceu tá tudo
guardado aqui ó. Dentro de mim, quietinho, sem vontade nenhuma de sair.
Se
eu pudesse escolher numa escala de 0 a 10 uma nota para o que falavam de você,
com certeza seria 11. Você é aquele tipo de cara fofo e certinho, bem família e
- gato, pois é - que todas as menininhas e mulherões caem em cima. No começo eu
não me senti insegura, não me retraí e apenas me mostrei quem eu sou, sem
máscaras ou exageros. Talvez tenha tentado te impressionar uma ou duas vezes,
mas não é preciso de tanto, não é mesmo? Não é qualquer menina de 17 anos que
mora sozinha, longe da família e trabalha para poder pagar as próprias contas.
Não é qualquer menina de 17 anos que gosta de música antiga e curte mais ficar
em casa do que sair por aí ou virar a noite em alguma balada. Tanto que a
primeira vez que eu fiz isso, olhe bem, foi com você. E mesmo assim eu senti
que não era exatamente o meu lugar.
E
depois de te conhecer melhor, saber seus gostos, manias e incontáveis defeitos,
pensei que você quisesse me conhecer melhor também - não até certo ponto como
você fez; mas inteira, de cima a baixo, de dentro pra fora. Não foi. Mais uma
vez eu imaginei coisas que não devia ter imaginado, pensei que seria diferente
e - vindo de você todas aquelas críticas para todos os outros caras que foram
babacas - eu não pensei que viraríamos isso. Dizem que quem quer faz de tudo,
corre atrás e não arranja desculpas... Vai ver a pessoa que falou isso pela primeira
vez estava certo. Porque nenhuma desculpa é grande o suficiente para me fazer
entender o óbvio.
Não
seja igual todos os outros, eu pensava comigo mesma pela milésima vez.
Não
que eu tenha ficado muito mal depois de perceber suas reais intenções. Não que
eu tenha ido dormir com a minha blusa que tinha seu cheiro durante uma
semana depois daquela noite em que nos beijamos. Não que eu tenha feito carinho na sua
barba lembrando do quanto ela me arranhou e você, bobo, me irritava ainda mais
quando eu mostrava me importar. Não que você seja aquele que faz eu sonhar
coisas fofinhas nem que seja aquele que faz meu coração palpitar quando chega
perto, mas tem coisas em você que me irritam de verdade. Não que eu esteja
falando a verdade aqui da forma mais irônica possível - estou apenas tentando,
confesso - e não que eu sinta a sua falta e queira que aquele dia voltasse. Ou
noite. Ou madrugada. O dia todo em si foi inesquecível mesmo.
Aí
eu acreditei em todas aquelas palavras, e você fez a pior coisa que podia ter
feito. Ou melhor, dependendo da sua real intenção. Eu percebi que não é porque
alguém te fala algo que a pessoa vai cumprir, nem se ela falar que vai te ver
nas suas folgas e depois do seu horário de trabalho. Okei, aí já é exagero
quando você tira uma folga por semana e só sai do trabalho tarde da noite. Mas
eu acreditei em frases ditas à toa, pela boca que se manteve distante por tanto
tempo, e não me deu chances de matar a vontade completa. O metrô agora está
vazio, o horário de almoço uma monotonia, e meu celular não mostra nenhuma
mensagem sua.
Não
que eu ligue para essas coisas, e eu não ligo mesmo. É só a dúvida que me deixa
inquieta e a maldita lista que aumenta, me provando o que, no fundo, eu sempre
soube: eu podia ter te mostrado minha coleção de CD's, meu quarto e minhas
camisas de banda. Podia ter te falado que amava cantar quando era menor e que
tenho uma mania horrível de estralar os dedos quando acordo. Podia ter te
mostrado meus talentos, meus defeitos e minhas paixões, e você podia ter percebido
que eu era a menina certa para você, o certo para mim. Mas tudo isso só teria sido
possível se você tivesse me dado o espaço ideal para minha demonstração. Podia,
sim, e talvez assim, você teria ficado um pouco mais. Aquela noite, e também
na minha vida.
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