Não querer se entregar
Mais do que o
medo de sentir, é o medo de admitir que sente. Primeiro, para si mesmo; em
segundo lugar, para a pessoa. Muitas vezes há tanto em jogo, que nem ao menos é
possível pensarmos com clareza diante da situação. Falar "não" é,
geralmente, o meio mais fácil de fugir de tudo. Do sentimento, da tristeza, dos
possíveis arranhões, da história que pode ser mas não será. Não será somente se
deixarmos que assim aconteça, certo? No fim, nós estamos no controle de tudo, e
negamos para fugir de algo que é de nossa inteira responsabilidade. Afinal,
quem sente somos nós, e mais ninguém.
Eu mesma já
neguei muitas vezes o quanto gostava de uma pessoa. Ele era legal, bonito, e
nunca daria a mínima para mim. Quando me questionavam se eu sentia algo por
ele, a resposta era automática: não. Não porque não quero gostar de alguém de
novo, acabei de sair de um amor não correspondido que me feriu muito. Não
porque não quero fazer novamente papel de boba, não porque ele com certeza não
vai sentir nada por mim. Não porque eu nem mesmo tenho certeza do que sinto –
isso quando na verdade sabia que já estava apaixonadíssima nível mil. Negar
tanto só fez adiar o que era inevitável: um dia eu admiti para mim mesma, para
o cara, para o mundo, e então ele disse que sentia o mesmo. Parece até filme,
não é? E foi. Porque eu no final não quis nada por medo de me machucar e,
quando decidi tentar algo, ele já estava com outra. Muito bem, muito bem. É a
vida.
Outros amores
surgiram depois desse, e quer saber? Eu comecei a admitir mais fácil que
gostava. E começou a se tornar tão fácil e rápido, que hoje eu até desconfio
que tenha sido mesmo amor como eu costumava dizer. Talvez tenha sido paixão –
daquelas bobas que vêm, nos confundem e vão embora, nos deixando achar que o
sentimento acabou, quando na verdade morreu. Sentimentos não são como livros
para acabar. Sentimentos morrem. Ficam na lixeira da vida e, vez ou outra, dá
uma vontade de restaurar tudo o que tem nele. Ou é algo espontâneo, vai saber.
O que eu
aprendi nessa de falar de vez o que sente ou não, se abrir para o mundo ou guardar
tudo numa caixinha que vai se amontoando com o tempo, é que: quanto mais
sentimos, menos vamos falar. É como se existisse um bloqueio geral; gostar
tanto de alguém nos faz sentir medo, em primeiro lugar, de nós mesmos. Em
segundo, da pessoa não sentir o mesmo e, em alguns casos, de estragar relações
já existentes. Quando não admitimos que gostamos de alguém, muita coisa está
envolvida nisso, pode acreditar. Talvez nós achamos que não seja a hora e que,
quando falarmos, é para dar certo, para valer. Ou mesmo não falamos porque
muita coisa pode mudar a partir daí. É complicado, assim como a vida e a
matemática. Mas no fim, dois mais dois sempre vai ser quatro. Se nada é por
acaso, um sentimento que existe em seu coração não foi colocado sem nenhum
motivo. Uma hora ele sai, viu? Mesmo que você segure, nossos corações são
feitos de pássaros, nunca se acostumarão com gaiolas.
Mas a
pergunta que eu faço, é: e se você soubesse que o mundo fosse acabar amanhã?
Eu, particularmente, falaria tudo o que sinto para quem eu amo. Mesmo! Eu posso
até segurar isso agora, mas não deixaria que tudo acabasse, fosse destruído, ou
a distância o impedisse de saber tudo o que eu tenho dentro de mim. Cada texto,
cada sonho e pensamento, cada hora em que a vontade era apenas uma: dizer "eu
te amo". Não vou ser hipócrita a ponto de dizer que amanhã vou levantar
daqui e me declarar, mas um dia vai sair. E vai ser o dia em que tudo vai estar
no limite, e eu vou achar que é a hora, como se o mundo realmente fosse acabar
no dia seguinte.
Acho que, se pensássemos assim pelo menos uma vez na vida, muita
coisa mudaria, sim. Mas nossos corações se livrariam de pesos desnecessários –
correríamos riscos mas, acima de tudo, poderíamos descobrir o que é uma
verdadeira história de amor. Nunca é demais se arriscar.
salam
ResponderExcluirتعمیر تخصصی یخچال
ResponderExcluir